Educação transformadora e emancipação social: quando a escola ensina a pensar
Por Adriana Ramalho
A educação é, antes de tudo, um ato político. Não de partidos, mas de propósito: o de formar cidadãos capazes de compreender o mundo, questionar injustiças e propor caminhos de mudança. Em um país que ainda convive com desigualdades históricas, falar de educação transformadora é falar de emancipação social — e de como a escola pode ser o ponto de virada entre o destino imposto e o destino escolhido.
O Ideb de 2023 mostra que o Brasil alcançou nota 6 nos anos iniciais do ensino fundamental — um avanço modesto, mas ainda distante do necessário. Já o Saeb revela que o desafio não está apenas em ampliar o tempo de aula, mas em resignificar o aprendizado: promover o pensamento crítico, a autonomia intelectual e a consciência cidadã.
Educar para transformar é muito mais do que ensinar conteúdos. É despertar a capacidade de análise, de empatia e de ação. Uma escola transformadora é aquela em que o aluno entende que pensar é um ato de liberdade, e que sua voz tem poder para mudar realidades. É também o espaço onde o professor é reconhecido como agente central de mudança — e não como alguém que apenas reproduz o que vem do alto.
Uma educação transformadora é aquela que transcende a transmissão de conteúdo e ensina a duvidar, argumentar, propor. É nesse ponto que a escola se converte em espaço de cidadania: quando o estudante percebe que sua voz tem poder, e que pensar é um ato de liberdade. Como dizia Paulo Freire, “educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Como vereadora em São Paulo, atuei em comissões ligadas à infância, à juventude e à proteção social. Defendi políticas que tornassem a escola um núcleo de convivência e cidadania, e não apenas um lugar de passagem. A experiência me ensinou que a verdadeira transformação social nasce do encontro entre educação, cultura e comunidade.
Programas como o Escola em Tempo Integral, lançados para ampliar a permanência e o protagonismo estudantil, são um passo importante. Mas precisamos ir além: valorizar a carreira docente, ampliar o financiamento público e aproximar as políticas educacionais da vida real das pessoas.
A escola deve ser o primeiro terreno de prática democrática.
“Não basta transmitir conhecimento: é preciso ensinar a pensar, questionar e agir. Só assim transformaremos vulnerabilidade em possibilidades reais de cidadania.”
A educação é o único caminho permanente de emancipação. Um país que educa para pensar constrói cidadãos livres — e cidadãos livres constroem democracias fortes. A transformação que o Brasil precisa começa, silenciosamente, dentro de uma sala de aula.
Fonte: AL9 Comunicação
Adriana Ramalho é ex-vereadora da cidade de São Paulo, ativista social e defensora de políticas públicas voltadas à mulher e a educação, inclusão e proteção da infância.