CRÍTICA – Maratona Oscar – A Thousand and One (Mil e Um) / 2023 – A.V. Rockwell

A Thousand and One  acompanha Inez de La Paz (Teyana Taylor),  uma jovem mulher negra que acabou de sair da prisão, após um ano detida. Enquanto tenta colocar seu negócio como cabeleireira para funcionar, ela toma a desesperada e ousada decisão de “sequestrar” seu filho de seis anos de um lar adotivo, como aquele onde ela mesma cresceu. Inez acredita que ele estará melhor sob seus cuidados, mas não tem a menor ideia dos problemas que vão enfrentar.

O filme que fez sucesso e levou o grande prêmio do júri na mostra competitiva no festival de Sundance chama atenção pelo ritmo e pelos cenários, através do contexto de transformação num arco temporal que vai de 1994 até 2005, com a mesma cadência. E que na passagem do tempo tem inserts radiofônicos das medidas políticas repressoras das comunidades negras durante esse período.

Um filme muito bem construído que desenvolve com muita profundidade os personagens

Inez (Teyana Taylor) e o seu pequeno Terry (Aaron Kingsley Adentola) que são, pouco a pouco, apresentados nos colocando inicialmente, como, na própria condição dos dois personagens centrais, que estão se conhecendo também.

A.V. Rockwell, diretora e roteirista, consegue traçar um perfil sobre as afetividades, retratar a repressão policial, a ausência de assistência social, de serviços públicos mínimos e o processo de transformação das áreas urbanas que leva ao encarecimento do custo de vida e aprofunda a segregação sócio espacial nas cidades.

As difíceis decisões de Inez moldam a visão de mundo de Terry, que carrega o mundo nos ombros, com isso o menino não vê outra escapatória senão se fechar para tudo, e introverter-se em resposta a uma realidade que parece impossível de ser superada. 

A fotografia é um muito competente ao retratar as mudanças de mãe e filho do Brooklyn ao Harlem para onde fogem Inez e Terry.

A trilha sonora nos oferece uma experiência sonora envolvente, que não quer retratar o tempo das ações mas antes o desenvolvimento dos personagens.

Com uma atuação muito elogiada pela crítica, Teyana Taylor imprime uma força gigantesca para um papel que certamente marcou a história recente do cinema negro norte americano.  A transição da personagem de jovem recém liberta da penitenciária para uma mulher que vai segurar uma barra gigantesca, tentando manter a familia unida e proteger o seu filho, é de se aplaudir de pé.

A Thousand and One  faz um ótimo exercício de observação social, a direção e o roteiro da estreante A.V. Rockwell,  produz um filme muito fora da curva, já vimos dezenas de histórias sobre mães solteiras que superaram adversidades, mas a narrativa aqui faz com que tudo pareça novo, e não à toa o longa já alcançou reconhecimento e prêmios da crítica pela sua enorme qualidade e visão singular. 

Brutal e ambíguo, é um filme essencial para qualquer um.