CRITICA OSCAR – Emilia Perez (2024)

Emilia Pérez (Idem – França/Bélgica, 2024) – Direção: Jacques Audiard

“Emilia Pérez”, dirigido por Jacques Audiard, é um filme que, apesar da aclamação em festivais e múltiplas indicações ao Oscar, tem sido alvo de críticas significativas, especialmente por parte das comunidades trans e mexicana.

Inspirado bem de longe pelo romance Écoute, de Boris Razon, que o próprio Audiard adaptou na forma de um libreto de ópera e, depois, transformou em roteiro cinematográfico.

Emilia Pérez mistura gêneros, tanto em termos de estrutura narrativa quanto de conteúdo, trabalhando um thrillerde crime como um inusitado musical que, apesar de não ser comédia como alguns definem por aí, extrai humor do absoluto inusitado que é sua premissa. 

Quando você não sabe nada sobre o filme, nem sequer sobre o roteiro, você o vê com outros olhos. E tendo assistido desta forma Emilia Perez foi, para mim, uma boa experiência.

Não é que o desconhecimento sobre o filme seja condição para apreciá-lo, mas ao aprofundar em todo o contexto que cerca o filme, não há como isso não interferir no todo.

O roteiro tenta abordar questões importantes, que merecem ser discutidas.

A narrativa centra-se em Manitas, um chefe de cartel mexicano que, buscando redenção, decide fazer uma transição de gênero e assumir uma nova identidade como Emilia Pérez, uma mulher trans. Para isso, conta com a ajuda da advogada Rita, interpretada por Zoe Saldaña. Embora a premissa seja ousada, a execução levantou preocupações.

O filme perpetua estereótipos prejudiciais sobre pessoas trans. A transição de gênero é retratada como um meio para escapar de um passado criminoso, sugerindo que a identidade trans é uma escolha conveniente, o que desconsidera as complexidades e realidades das experiências trans. Além disso, a personagem Emilia é frequentemente apresentada com traços masculinizados, reforçando estereótipos e não oferecendo uma representação autêntica da feminilidade trans.

A autenticidade cultural também é questionada. O filme, dirigido por um cineasta francês e estrelado por atrizes não mexicanas, apresenta uma visão estereotipada do México e de sua cultura. Diálogos e ambientações soam artificiais para o público mexicano, e a decisão de escalar atores estrangeiros para papéis mexicanos levanta debates sobre representatividade e apropriação cultural.

A atriz Karla Sofía Gascón, que interpreta Emilia Pérez, enfrentou críticas devido a tweets antigos com conteúdo ofensivo, incluindo comentários islamofóbicos e insensíveis sobre George Floyd. Essas revelações resultaram em backlash significativo, levando a sua exclusão de materiais promocionais e distanciamento por parte da equipe do filme.

Em resumo, “Emilia Pérez” tenta abordar temas complexos de identidade e cultura, mas falha em oferecer representações respeitosas e autênticas, resultando em críticas válidas das comunidades que busca retratar.

Em favor de Emilia Perez destaco sua originalidade que mistura estilos e temas, criando uma produção inovadora que chamou a atenção do público e da crítica.

Karla Sofía Gascón tem uma atuação corajosa e muito competente, elogiada até por quem critica o filme.

A crítica especializada aprovou a inventiva trilha sonora composta por Camille e Clément Ducol.

Destaca-se, ainda, o fato de Emilia Perez ter recebido 13 indicações ao Oscar e ganhou prêmios no prestigioso Festival de Cinema de Cannes e no Globo de Ouro, incluindo o de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa.