CRITICA OSCAR – O Brutalista
O Brutalista (The Brutalist) — EUA, Reino Unido, Canadá, 2024 – Direção: Brady Corbet
O Brutalista, dirigido por Brady Corbet, é uma obra ambiciosa que busca explorar as complexidades da experiência de um imigrante judeu europeu nos Estados Unidos do pós-Segunda Guerra Mundial. O filme mergulha em temas como trauma, identidade, xenofobia e a desilusão do sonho americano, tudo isso através da lente da arquitetura brutalista, que serve como metáfora para a construção e destruição de vidas e ideais, como metáfora para a condição humana
O filme retrata com sensibilidade o impacto devastador da Segunda Guerra Mundial na vida dos judeus europeus. As cicatrizes físicas e emocionais da guerra são evidentes no protagonista, o arquiteto László Toth, interpretado por Adrien Brody. A busca por um novo lar na América é permeada pela esperança de reconstrução, mas também pela sombra do passado e pelo medo da repetição da história.
Dividido em três extensos atos, Corbet nos convida para uma experiência cinematográfica sobre a vida humana, seus dissabores, tropeços e acertos.
“O Brutalista” não romantiza a experiência da imigração. O filme expõe a face sombria do sonho americano, revelando a xenofobia e o preconceito enfrentados pelos imigrantes. A luta de László para encontrar seu lugar em uma sociedade que o vê como um estrangeiro é um dos pontos centrais da narrativa. O filme critica a ideia de que a América é uma terra de oportunidades iguais para todos, mostrando como o sistema pode ser excludente e opressor, embora erguido sobre promessas de liberdade, mantém-se aprisionado a estruturas segregadoras de ordem étnica, cultural, de classe e gênero.
László é um homem deslocado, dividido entre o desejo de construir um futuro e a impossibilidade de apagar o passado. Sua paixão pela arquitetura brutalista é uma forma de expressar sua visão de mundo, mas também um reflexo de sua própria brutalidade interna. A arquitetura, assim como a vida de László, é marcada por contrastes: beleza e feiura, esperança e desespero, construção e destruição.
O roteiro de Brady Corbet e Mona Fastvold é denso e complexo, explorando temas profundos e delicados. A direção de Corbet é meticulosa, com atenção aos detalhes e uma estética visual marcante. A fotografia, com seus tons sombrios e enquadramentos precisos, contribui para a atmosfera melancólica e opressiva do filme, mas a obsessão pela estética arquitetônica faz o filme perder em alicerces narrativos, a obra abre mão das sutilezas e explica subtextos e temas de forma óbvia ou simplesmente deixa sem explicações.
Adrien Brody tem uma performance emocionalmente contida, toda a dor dele é suposta mas que diz muito com gestos e trejeitos que nos atravessa, é precisa e primorosa no que o personagem se propõe, a narrativa de suas emoções é cumprida com a eficiência por Felicity Jones que é Erzsébet, a exposa frágil mas potente de László, que acrescenta muitos elementos a história, mas chega na metade final do filme. Ela havia ficado na Hungria junto à sobrinha, Zsófia (Raffey Cassidy, que me parece sem função narrativa na história.
Guy Pearce é Harrison o rico empresário que contrata o protagonista para uma obra monumental e se revela aos poucos, em um trabalho mediano mas competente de Guy Pearce. O ator retrata um homem que se deixa enganar pelas próprias mentiras, em uma performance ambígua que sempre esconde algo por trás de uma fachada de homem de bem.
Com três horas e meia de duração, “O Brutalista” não é arrastado, mas a para um trabalho que almeja o épico tanto em estética, quanto em duração, peca ao diluir a narrativa em demasia.
“O Brutalista” é um filme desafiador e provocador, que convida à reflexão sobre temas importantes como guerra, imigração, identidade e o sonho americano. No contexto geral o filme se destaca pela sua ambição, pela atuação de Adrien Brody e pela sua estética visual marcante. É um filme que certamente ficará na memória do espectador.

