Inovação não é aposta, é condição para o futuro do Brasil

Por Norivaldo Corrêa Filho

O que falta é uma cultura mais sólida de valorização da inovação como vetor estratégico de crescimento. 

Nos últimos anos, o Brasil acumulou exemplos concretos de como a ciência, a tecnologia e a inovação podem deixar de ser conceitos abstratos para se tornarem motores reais de desenvolvimento econômico, impacto social e inserção global. 

Ainda assim, continuamos tratando o investimento em pesquisa e desenvolvimento como algo secundário frequentemente refém de ciclos orçamentários e da ausência de uma estratégia nacional de longo prazo.

Talentos não nos faltam. Centros de excelência e pesquisas de ponta estão espalhados pelo país. O que falta é uma cultura mais sólida de valorização da inovação como vetor estratégico de crescimento. Em países que lideram os rankings globais de competitividade como Emirados Árabes Unidos, Suécia, Finlândia e Alemanha, o investimento em tecnologia é contínuo e articulado entre governo, universidades, empresas e agências de fomento. Alguns desses países, inclusive, já utilizam soluções desenvolvidas no Brasil.

Por aqui, quando essa articulação entre ciência, mercado e políticas públicas acontece, os resultados são expressivos. Parcerias entre universidades públicas e empresas de base tecnológica têm gerado soluções sofisticadas, com impacto internacional. Muitas dessas inovações contam com o apoio de agências como a Fapesp, que cumpre um papel essencial ao conectar pesquisa científica e mercado, estimulando o empreendedorismo com critério e visão de futuro.

Esse modelo, baseado em cooperação, financiamento estruturado e transferência de conhecimento, precisa deixar de ser exceção para se tornar regra. Países que deram saltos de desenvolvimento nas últimas décadas, como a Coreia do Sul, investiram de forma consistente em inovação, mesmo diante de cenários adversos. Não se trata de importar soluções prontas, mas de reconhecer que o desenvolvimento sustentável exige ciência aplicada, tecnologia acessível e políticas públicas duradouras.

Um aspecto ainda subestimado no Brasil é o papel da infraestrutura dedicada à inovação. A criação de polos tecnológicos, laboratórios avançados e centros de testes contribui diretamente para o amadurecimento de soluções e acelera sua aplicação prática. Esses ambientes são fundamentais para transformar ideias promissoras em tecnologias disponíveis no mercado, com potencial de escala nacional e internacional.

Inovar não é apenas lançar produtos novos. É desenvolver soluções para problemas complexos  da mobilidade urbana à segurança hídrica, da agricultura de precisão à prevenção de desastres ambientais. A tecnologia deve estar a serviço da sociedade, promovendo eficiência, inclusão, sustentabilidade e soberania. E, para isso, precisa ser fomentada desde a origem: no ambiente acadêmico, nos centros de pesquisa e nos laboratórios que ainda lutam para manter sua estrutura básica em funcionamento.

Também é preciso romper com a ideia de que a inovação só floresce nos países centrais. O Brasil já conta com casos consolidados de tecnologias desenvolvidas localmente que alcançaram o mundo com patentes, contratos internacionais e reconhecimento técnico. Esse potencial precisa ser transformado em política pública, em prioridade de investimento e estratégia para o país.

Não podemos mais tratar ciência, tecnologia e inovação como apostas. São condições fundamentais para garantir que o Brasil tenha um papel relevante na economia do século XXI. É hora de sair do discurso e investir, de forma estruturada e contínua, no conhecimento como ativo nacional. O futuro começa na sala de aula, nos centros de pesquisa e nas parcerias que unem inteligência científica, visão empreendedora e compromisso público.

 * Norivaldo Corrêa Filho é executivo com sólida trajetória iniciada nas áreas contábil e financeira. Atuou em grandes multinacionais, sendo CFO e Country Manager do grupo britânico BTR na América do Sul, e presidiu a PLASCAR S/A. Foi responsável pela profissionalização e expansão da IMPLACIL, conduzindo sua bem-sucedida venda a um grupo coreano.