Reciclagem de papel tem pior índice desde 2018

A taxa de 59,7% em 2024 preocupa o setor, que mesmo com alto faturamento, não registrou rentabilidade e precisou investir na reestruturação da coleta.

O setor de aparas de papel e papelão registrou, em 2024, a pior taxa de reciclagem desde 2018, atingindo apenas 59,7% do volume total de reciclados. Os dados são do mais recente relatório da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (ANAP), elaborado pela MaxiQuim e apresentado na Eco Expo 2025.

Apesar do índice alarmante, o setor gerou 4,65 milhões de toneladas, um crescimento de 3% no volume, e faturou R$ 4,2 bilhões, alta de 30% em relação ao ano anterior. No entanto, João Paulo Sanfins, vice-presidente da ANAP, alerta que o dado é enganoso: o setor não foi rentável em 2024, pois o aumento da receita foi imediatamente consumido pelos custos de reestruturação.

“Um aumento de preço tão relevante não ser capaz de reestruturar uma cadeia que foi desfeita por um preço tão baixo é um sinal de alerta”, afirma Sanfins. Ele defende que a infraestrutura nacional de coleta não pode ficar à mercê da oscilação dos preços de commodities.

O relatório aponta que, para movimentar o crescimento de 3% no volume, os aparistas tiveram que aumentar em 3,5% a mão de obra, além de investir na renovação de frota. Essa necessidade foi gerada pela desestruturação da cadeia de coleta em 2023, devido aos preços extremamente baixos.

Um dado que ilustra essa fragilidade é a mudança no padrão de fornecimento: a participação de estabelecimentos comerciais na coleta aumentou 10%, enquanto a de sucateiros, ferros-velhos e cooperativas caiu 7% e 3%, respectivamente. Isso significa que os aparistas assumiram a coleta direta, substituindo a função que era dos pequenos coletores e cooperativas, que optaram por comercializar outros materiais, como plásticos.

Para Sanfins, o aumento de preço não foi suficiente para reverter o êxodo da cadeia. “O faturamento aumentou, mas esse dinheiro foi revertido em investimentos para reestruturar uma cadeia que se tornou deficitária. Isso mostra como é caro e difícil reconquistar uma base de fornecimento que foi perdida”, acrescenta.

A ANAP reforça a necessidade de políticas públicas, como um decreto para o papel e papelão que obrigue o uso de conteúdo reciclado e incentive projetos de logística reversa que garantam melhor remuneração para a coleta, tornando-a menos vulnerável às alterações de preço.

O relatório também destaca um cenário de alerta na balança comercial. As importações de aparas de papel cresceram 47% em 2024, e as exportações caíram 7,5%. Essa inversão, negativa desde 2020, pressiona os preços no mercado doméstico e preocupa a indústria nacional.