CRITICA – Maratona Ocar – Pobres Criaturas – 2023
Pobres Criaturas (Poor Things – Irlanda/Reino Unido/EUA, 2023)
Direção: Yorgos Lanthimos
Baseado no livro homônimo do escritor britânico Alasdair Gray, Poor Things é a incrível história a respeito da evolução fantástica de Bella Baxter (Emma Stone), uma jovem trazida de volta à vida pelo brilhante e não convencional cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe), um médico-cirurgião sádico que quebra todas as regras da moralidade em nome da ciência.
O método de ressuscitação, utilizado por Baxter consistiu em retirar o cérebro de um feto e inserir em um corpo recentemente morto, motivo pelo qual a protagonista age de modo tão peculiar, se desenvolvendo à medida que conhece mais do mundo.
Poor Things é uma variação distorcida do mito de Frankenstein, onde Bella desbrava sua identidade, seu corpo e o mundo em buscas por respostas e prazeres.
O longa é sobre exploração e em todos os sentidos, principalmente do feminino.
Bella vai de uma criança em corpo adulto, dominada e submissa até uma mulher decidida e profundamente consciente do mundo ao seu redor, especialmente no que toca o sexo e ao gênero.
O acesso à história do espectador é a protagonista, de modo que o que vemos, e como vemos, se relaciona diretamente à percepção da personagem. Tudo nos parece exótico, e é, e tudo parece exótico também à Bella, que sai de casa pela primeira vez no decorrer da obra, é só então começa a perceber o mundo e a si mesma.
O grande lance de Por Things é a forma como o diretor filma essas figuras que remetem a um cinema clássico a partir de técnicas contemporâneas.
Yorgos Lanthimos é um dos diretores mais autorais da atualidade e mostra-se em seu ápice estético. Ele cria uma atmosfera surrealista de maneira muito requintada.
Bella personifica um coming of age inusitado, cheio de novidades e avassalador que demonstra pelas abordagens sociais uma crítica à sociedade, historicamente machista e com hierarquias impostas, que podam as mulheres, muitas vezes, de forma cruel e violenta.
Ressalta-se a excepcional performance da Emma Stone, cheia de trejeitos, que poderia dar muito errado mas Stone nos faz acreditar em Bella e dá vida a uma difícil representação, sem jamais se tornar caricata.
Willem Dafoe sempre competente, empresta genialidade a tudo que faz e com seu Dr. Godwin Baxter não é diferente, esbanja genialidade, e ainda Mark Ruffalo, mesmo não estando em seu melhor papel, é muito eficiente.
Poor Things é cativante e encantador, ousado e com toques de bizarrice.
Nesta obra Lanthimos tem um compromisso firme em fazer uma obra de arte e é extremamente bem sucedido na empreitada.
Sem dúvidas, um dos melhores do ano e, sem medo de errar, avalio esse como o melhor trabalho da carreira de Yorgos.