CRÍTICA – Maratona Oscar / Oppenheimer

Oppenheimer (Oppenheimer – EUA, Reino Unido, 2023)

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan, Kai Bird, Martin Sherwin

O longa é baseado no livro biográfico ‘Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano’ sobre a vida e obra de J. Robert Oppenheimer, mais conhecido como o pai da bomba atômica.

A história retrata o desenvolvimento do Projeto Manhattan, o berço da bomba atômica, que resultou na morte de mais de 110 mil pessoas em Hiroshima e Nagazaki no ano de 1945.

Christopher Nolan é sinônimo de um cinema complexo e desafiador, sem compromisso com marcações claras na passagem do tempo.

Oppenheimer não é cronológico, mas é o filme mais sóbrio de Nolan quando o assunto é lidar com o tempo, no relógio histórico.

São eventos marcantes da história que são representados de forma organizada, mesmo que ele tenha idas e voltas, acompanhados de acordo com o depoimento de Oppenheimer à comissão. 

Nolan optou por além do aspecto histórico e político por uma narrativa que faz mas um estudo de personagem, produzindo um filme que elabora com brilhantismo as angústias e tragédias do cientista obcecado por ser reconhecido como um gênio da física.

Oppenheimer é visto por um mundo que só ele enxerga.

O filme poderia ser só mais uma cinebiografia, mas não nas mãos de Nolan, que roteiriza  uma história com muitas camadas e grande profundidade e a dirige com maestria.

Apesar de abdicar da ação, “Oppenheimer” impressiona pela primazia técnica, principalmente em relação  a edição que faz o filme se passar em três tempos, destaque também para a fotografia impecável e uma mixagem de som que impressiona, o desenho sonoro, sempre foi algo potente nas produções de Nolan.

Na pele de Oppenheimer, Cillian Murphy dá vida à um personagem complexo, contraditório em suas percepções, e academicamente brilhante.

Nolan consegue captar bem tudo que Cillian tem a oferecer, e oferece muito, em uma atuação espetacular.

O elenco estelar, revela grandiosidade da produção: Florence Pugh, Robert Downey Jr., Emily Blunt, Matt Damon

Oppenheimer tem a responsabilidade de nos levar à reflexão sobre a nossa possível autodestruição consciente, via bomba atômica. 

Uma discussão muito oportuna para o momento que estamos vivendo e ainda que fale de um acontecimento histórico de décadas atrás, a perspectiva de discutir a relação entre avanço da ciência, guerra e ética não poderia ser mais atual.

A frase que conclui o filme é poderosa “A revelação do poder atômico desencadeou uma reação em cadeia que durou décadas e foi responsável pelo desenvolvimento de armas cada vez mais poderosas — levando o mundo para um caminho sombrio sem escapatória”

Ainda que o texto possa, em alguns momentos, parecer um pouco arrastado e falhe em explicar a desumanidade do ato que elas causaram, Nolan acerta ao entregar na medida certa tudo o que é necessário para que se compreenda a genialidade e o tormento do cientista que mudou o mundo e deu à humanidade a oportunidade de destruí-lo.

★★★★★