CRITICA OSCAR – Ainda Estou Aqui
Ainda Estou Aqui (Brasil, França, 2024) – Direção: Walter Salles
“Ainda Estou Aqui” é uma jornada cinematográfica emocionante e profunda, não é apenas uma obra de arte, mas um mergulho corajoso e necessário na história do Brasil, resgatando memórias dolorosas e, ao mesmo tempo, celebrando a resiliência humana.
“Ainda Estou Aqui” tem roteiro é inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015. O escritor, dramaturgo e jornalista paulista é filho de Rubens Beyrodt Paiva, deputado federal pelo PTB entre 1963 e 1964, cassado durante a ditadura, exilado e, após retornar ao Brasil, preso e morto, em janeiro de 1971
O longa nos transporta para um dos períodos mais sombrios da história brasileira: a ditadura militar. Através da história da família Paiva, somos confrontados com a brutalidade e a injustiça da época, mas também com a força do amor e da esperança. Através do filme podemos fazer um paralelo poderoso entre o passado e o presente, mostrando como as feridas da ditadura ainda reverberam na sociedade brasileira.
A direção de Walter Salles é magistral, conduzindo a narrativa com sensibilidade e maestria. A fotografia é impecável, capturando a beleza e a melancolia do Rio de Janeiro da época. A trilha sonora, composta por Warren Ellis, é um elemento essencial, intensificando as emoções e criando uma atmosfera envolvente.
As atuações são simplesmente extraordinárias. Fernanda Torres entrega uma performance arrebatadora como Eunice Paiva, uma das muitas mulheres que firmaram o pé contra a ditadura e estiveram à frente da luta contra “as falsas listas e os falsos positivos” manipulados pela burocracia estatal militarizada, a fim de ocultar prisioneiros, torturados e assassinados. Transmitindo a dor e a força de uma mãe que luta pela verdade, as expressões de Torres são dolorosamente sutis, muito bem escolhidas para cada momento. Fernanda Montenegro, em uma participação especial, ilumina a tela com sua presença e talento. Selton Mello, como Rubens Paiva, entrega uma atuação estupenda, comovente e marcante. O elenco como um todo é impecável, com atuações que transbordam emoção e autenticidade.
“Ainda Estou Aqui” já é uma das grandes obras do cinema nacional mas ainda fez história nos festivais pelo mundo. Com 3 indicações ao Oscar 2025, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (Fernanda Torres). O filme também recebeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama (Fernanda Torres) e o Satellite Award de Melhor Atriz em Filme de Drama (Fernanda Torres). As indicações históricas ao Oscar são um testemunho do impacto cultural e artístico desta obra-prima, deixou sua marca na história do cinema brasileiro.
“Ainda Estou Aqui” não é um filme político, é a história de uma família, de uma mulher, de uma luta diante de uma tragédia que parece estar mais viva do que nunca, e que nos lembra com muita melancolia que, em determinados tipos de sociedade e sistemas, nenhum direito conquistado está a salvo. É preciso lutar constantemente por eles, é um filme que nos convida a refletir sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil. É uma obra de arte que nos emociona e nos inspira, é uma experiência cinematográfica inesquecível.

