Relação entre gosto musical e traços de personalidade é estudada por pesquisadores

A música tem característica proeminente da vida cotidiana e no universal cultural diário. Todos os dias nos deparamos com músicas de vários estilos e características, e continuamente fazemos julgamentos sobre se gostamos ou não da música que ouvimos. Ao ouvir uma nova música, levamos apenas alguns segundos para decidir se ouvimos, mudamos para a próxima música ou pressionamos o botão repetir. No entanto, pouco se sabe sobre o que determina nosso gosto musical. 

Pesquisas realizadas por cientistas, que buscavam entender a relação entre o gosto musical e a personalidade de um indivíduo, mostraram resultados e conclusões bem interessantes.

Uma pessoa ouve música, em média, durante 20% do tempo em que está acordada. A música nos faz ter sentimentos diversos (chorar, rir, dançar, viajar, de fazer alguma atividade física, dormir, entre outros sentimentos. E ao que tudo indica, essas diferenças têm relação com a personalidade de cada indivíduo

De acordo com os estudos há pelo menos três perfis de personalidade: os empáticos, que têm interesse pelos pensamentos e pelas emoções das pessoas; os sistemáticos, que têm interesses em padrões, sistemas e regras; e os balanceados, cujos interesses são uma mistura dos dois primeiros tipos.

Diversos testes de personalidade, que foram realizados ao longo dos últimos anos, já comprovaram que 95% das pessoas se encaixam em um desses grupos, e que eles têm grande relação com os padrões de comportamento humano.

Pesquisa realizada na UCLA – Uiversidade de Los Angeles e publicada na revista Frontiers in Behavioral Neuroscience, encontrou evidências de que as formas emocionais e cognitivas do traço de empatia modulam a atividade nas áreas sensório-motoras e cognitivas.

As pessoas com maior empatia diferem das outras na maneira como seus cérebros processam a música, elas parecem processar a música de forma mais prazerosa – nas regiões cerebrais de recompensa, consciência social e regulação das emoções sociais.

Os voluntários classificados “com muita empatia” e os com “baixa empatia” têm em comum, quando ouvem música, o envolvimento, aproximadamente equivalente, das regiões do cérebro relacionadas ao processamento auditivo, emocional e sensório-motor, mas os “com muita empatia” parecem experimentar um maior grau de prazer em ouvir música, como indicado pelo aumento da ativação do sistema de recompensa e o envolvimento de circuitos cognitivos sociais.

Além disso, varreduras cerebrais de pessoas de maior empatia  também registraram maior ativação nas áreas medial e lateral do córtex pré-frontal responsáveis ​​pelo processamento do mundo social e na junção temporo parietal. , que é fundamental para analisar e compreender os comportamentos e intenções dos outros.

Normalmente, essas áreas do cérebro são ativadas quando as pessoas estão interagindo ou pensando em outras pessoas. Observar sua correlação com a empatia durante a audição musical pode indicar que a música para esses ouvintes funciona como um proxy para um encontro humano.

Dois estudos, realizados pela equipe do pesquisador  David M. Greenberg, da Universidade de Cambridge, e publicado no Journal PLoS ONE, examinaram os fundamentos cognitivos e afetivos das preferências musicais.

No primeiro estudo para descobrir a relação entre os tipos de comportamento e o gosto musical de cada pessoa, os cientistas realizaram inúmeros estudos, com mais de 4 mil participantes. Os pesquisadores avaliaram dados comportamentais de cada voluntário e depois relacionaram essas informações com as preferências musicais de cada um deles.

Os pesquisadores descobriram que pessoas de personalidade empática preferem músicas mais calmas, com letras profundas e cargas emocionais intensas. No estudo, foram relacionados às músicas “Come Away With Me”, de Norah Jones, e “Hallelujah”, cantada por Jeff Buckley.

Os sistemáticos, por outro lado, preferem músicas mais intensas, geralmente escolhendo estilos como hard rock, punk e heavy metal. Também gostam de músicas de melodias complexa, como as clássicas, e a música que foi relacionada a eles durante a pesquisa é “Etude opus 65 no 3”, de Alexander Scriabin.

Pessoas balanceadas, como já era de suspeitar, têm apreço por estilos musicais diversos.

Tomados em conjunto, esses resultados sugerem que a empatia desempenha um papel importante nas preferências musicais e que outras dimensões da mente relacionadas à empatia, como a sistematização, merecem investigação em relação às preferências.

Em seguida, com a ajuda da BBC do Reino Unido, os mesmos pesquisadores avaliaram 7 mil voluntários com base em cinco dimensões de personalidades: abertura à experiência, conscienciosidade, extroversão, amabilidade e estabilidade emocional. Além disso, eles também fizeram atividades para definir se tinham habilidades musicais, por meio de testes de escolha e memorização de melodias e ritmos.

Os resultados revelaram que as preferências musicais por estilos musicais amplos diferiam por ‘tipos de cérebro’. Como os trechos foram classificados com base na percepção de seus atributos musicais, os cientistas fizeram observações detalhadas sobre as características musicais diferenciadas que as pessoas preferem. Especificamente, descobriu-se que as preferências de um mesmo gênero musical se diferencia na intensidade e no estilo de música preferido por cada grupo, sugerindo que atributos psicológicos e sonoros apresentados na música diferem de acordo com o tipo de cérebro. 

Como no Estudo 1, os achados do Estudo 2 foram independentes das diferenças entre os sexos. Tomados em conjunto, esses resultados sugerem fortemente que os estilos cognitivos sustentam as diferenças individuais nas preferências musicais.

Os autores explicam que essas pesquisas podem ajudar, por exemplo, crianças e adultos autistas e que têm dificuldades de comunicação. Além do mais, a música, quando utilizada como terapia, pode ajudar pessoas que precisam se recuperar de traumas ou que estão passando por uma fase de luto – nesse sentido, entender melhor o que o gosto musical de um paciente significa é de grande ajuda para o terapeuta.

David Greenberg, que dirigiu a pesquisa em Cambridge, sugere que esses achados podem ser úteis à indústria da música.

“No Spotify e na Apple Music, por exemplo, há muito dinheiro sendo gasto com algoritmos para escolher quais músicas você deverá gostar”, afirma o cientista.

“E entendendo o estilo de pensamento de determinada pessoa, tais serviços poderão no futuro alinhar suas recomendações musicais a esses padrões.” conclui Greenberg

Fonte:

Neurophysiological Effects of Trait Empathy in Music Listening

Front. Behav. Neurosci. (2018) 12 (66)

Musical Preferences are Linked to Cognitive Styles

PLOS ONE (2015) 10(7): e0131151