CRÍTICA – Tár (2022)
UM PRIMOR DE CINEMA COM ESPETÁCULO DE ATUAÇÃO DE CATE BLANCHETT
Tár – EUA, 2022
Direção: Todd Field
Roteiro: Todd Field
Elenco: Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant, Sophie Kauer, Mila Bogojevic, Allan Corduner, Mark Strong, Julian Glover, Sylvia Flote, Fabian Dirr, Vincent Riotta, Sam Douglas, Lucie Pohl, Vivian Full, Lee Sellars, Ed White
Gênero: Drama
Duração: 158 min.
Situado num universo bem particular, o da música clássica, o longa centra-se em Lydia Tár (Cate Blanchett), considerada uma das maiores compositoras/regentes vivas e a primeira maestrina chefe de uma grande orquestra alemã.
Lydia Tár é uma força da natureza, uma mulher brilhante e feroz, com uma personalidade atroz e ácida, que alcançou um posto de grande influência e relevância em um meio predominantemente masculino, e que vai deixando um rastro de destruição por onde passa e vai devorando aqueles que a cercam.
Lydia é a alma do longa, brilhantemente interpretada por Blanchett (também produtora-executiva do longa), que não apenas convence muito bem como uma experiente musicista, como também aprendeu a falar alemão e a conduzir uma orquestra para a interpretação.
Tár paulatinamente, vai desnudando as faces da personagem expondo tanto o lado luminoso quanto a face sombria de sua natureza e as consequências de suas ações.
Mesmo sendo uma mulher em um cargo de decisão, a maestrina comete vários dos erros historicamente presentes nas mais diversas indústrias e corporações, evidentes em como suas relações afetivas com diversas profissionais interferem, de forma antiética, na ascensão e declínio das carreiras e vidas privadas destas pessoas.
O longa constrói um universo que está em flagrante mudança, mas que conserva os mesmos vícios estruturais cada vez mais expostos em escândalos nos tempos recentes.
Tár foge do óbvio, o longa faz de seus densos monólogos uma experiência cinematográfica inesperadamente angustiante, é uma experiência sinestésica onde a música erudita e o cinema cult se encontram.
Todd Field reúne, em Tár, o talento em nível máximo de Cate Blanchett, um roteiro primoroso e provocador, aliado a uma perfeição técnica.
O filme perturba, incomoda e é surpreendente porque escolhe contar o lado da verdade do abusador, e não da vítima que denuncia.
“Tár” é espetacular como filme, roteiro e direção e com Blanchett o longa se difere de muitas formas de um simples cinema.
Além da óbvia indicação de Blanchett, o filme recebeu indicações ao Oscar também de Direção de Fotografia, Direção, Roteiro Original, Montagem, além, claro, de constar no rol de concorrentes à estatueta de Melhor Filme.
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Por Ana Lopes
Jornalista