O impacto da música no desenvolvimento do cérebro do bebê prematuro
Pesquisadores de todo o mundo buscam encontrar métodos não farmacológicos de intervenção precoce, como a musicoterapia, para ajudar no desenvolvimento na primeira infância e minimizar as consequências adversas a curto e longo prazo do nascimento prematuro.
A música tem sido usada há muito tempo como terapia por seus benefícios para a saúde. Vários estudos mostram os efeitos positivos que ela tem na saúde mental. Sabe-se que reduz os níveis do hormônio do estresse, o cortisol. Além disso, pesquisadores descobriram que ouvir música ou tocar um instrumento aumenta a produção do anticorpo imunoglobulina A e dos linfócitos T. Esse tipo de célula ataca vírus e promove a eficácia do sistema imunológico.
Em bebês prematuros, a musicoterapia está relacionada ao uso da música para otimizar o desenvolvimento e facilitar o apego seguro entre o bebê e seus cuidadores primários.
Vários estudos demonstram que a musicoterapia, principalmente quando os pais cantam canções de ninar para seus filhos, tem um impacto sobre a ingestão de leite, ansiedade materna e saturação de oxigênio. Outras pesquisas sugerem que a musicoterapia também favorece a frequência respiratória, estabiliza a respiração e diminui a necessidade de futuras intervenções.
Ao nascer, os cérebros desses bebês ainda são imaturos, as redes neurais não se desenvolvem normalmente e o desenvolvimento deve continuar na unidade de terapia intensiva, em uma incubadora, sob condições estressantes, bem diferentes do que se ainda estivessem no ventre da mãe.
E como o sistema auditivo é funcional desde cedo, a música como terapia parece ser um bom coadjuvante.
Pesquisadores do Centro Médico Beth Israel estudaram 272 bebês prematuros com 32 semanas de gestação e examinaram os efeitos de três tipos de música: uma canção de ninar cantada pelos pais dos bebês, uma melodia do oceano que imitava os sons da barriga e um instrumento de percussão que simulava as batidas do coração. Os resultados mostraram que os três conseguiram reduzir a frequência cardíaca dos bebês, embora a canção de ninar tenha sido a mais eficaz. O canto dos pais também aumentou o número de bebês que permaneceram alertas e silenciosos. As percussões que simulavam o batimento cardíaco promoveram o comportamento de sucção no momento da alimentação, e a melodia do oceano melhorou a qualidade do sono dos bebês.
Os resultados mostraram que o uso terapêutico informado e intencional de som ao vivo e canções de ninar preferidas dos pais aplicadas por um musicoterapeuta certificado pode influenciar a função cardíaca e respiratória. Acompanhado dos sinais vitais observados de um bebê prematuro , sons e canções de ninar podem melhorar a alimentação.
Estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Genebra e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS) – com 45 bebês divididos nos grupos recém-nascidos a termo, que não nasceram prematuros (16), bebês controle sem intervenção de música (15) e grupo controle com intervenção de música (14) – mostrou que os bebês prematuros que foram expostos a música tiveram um aumento significativo no desenvolvimento das redes cerebrais em relação aos bebês prematuros que não tiveram contato com música.
As redes neurais das crianças que ouviram a música foram significativamente melhoradas: a conectividade funcional entre a rede de saliência e as redes auditiva e sensório-motora aumentaram de fato, resultando em uma organização de redes cerebrais mais parecida a dos bebês nascidos a termo.
Foi detectado que algumas áreas do cérebro dos bebês prematuros expostos à música tiveram um maior desenvolvimento. Isso impactou na percepção sensorial, nos mecanismos de atenção que facilita o aprendizado relacionado ao desenvolvimento cognitivo e perceptivo, no processamento afetivo e emocional, e nas respostas cognitivas e comportamentais.
Os cientistas usaram ressonância magnética funcional em repouso em todos os três grupos de crianças. Sem música, os bebês prematuros geralmente tinham conectividade funcional mais pobre entre as áreas do cérebro do que os bebês nascidos a termo, confirmando o efeito negativo da prematuridade.
Importante lembrar que na terapia intensiva, as crianças são dominadas por estímulos não relacionados à sua condição: portas abertas e fechadas, alarmes disparados etc. Ao contrário de um bebê a termo que, no útero, ajusta seu ritmo ao de sua mãe, o bebê prematuro em uma UTI, dificilmente pode desenvolver a ligação entre o significado de um estímulo em um contexto específico.
As primeiras crianças inscritas no estudo da Universidade de Genebra têm agora 6 anos de idade, fase em que os problemas cognitivos começam a ser detectáveis. Por isso, os cientistas pretendem reavaliar seus pacientes jovens para observar se os resultados positivos medidos nas primeiras semanas de vida foram mantidos.
Apesar de ainda serem necessários mais estudos para analisar quais os estilos e como poderiam ser usadas, a
musicoterapia pode ser muito benéfica para o desenvolvimento do cérebro do bebê prematuro, além de estimular o vínculo e o apego seguro.
Fonte
The Effects of Music Therapy on Vital Signs, Feeding, and Sleep in Premature Infants
Pediatrics (2013) 131 (5): 902–918.
Music in premature infants enhances high-level cognitive brain networks
Pnas (2019) 116 (24) 12103-12108