CRÍTICA – Entre Mulheres / 2022
UM DEBATE NECESSÁRIO SOBRE A CONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE DE UM GRUPO DE MULHERES CRISTÃS
Entre Mulheres (Women Talking)
Direção: Sarah Polley
Roteiro: Sarah Polley (baseado no romance de nome homônimo de Miriam Toews)
Elenco: Rooney Mara, Claire Foy, Frances McDormand, Jessie Buckley, Judith Ivey, Sheila McCarthy, Michelle McLeod, Kate Hallett, Liv McNeil, August Winter, Ben Whishaw, Kira Guloien, Shayla Brown, Emily Mitchell, Nathaniel McParland, Eli Ham
Gênero: Drama
Baseado no livro homônimo de Miriam Toews, o longa acompanha um grupo de mulheres que moram em uma comunidade cristã, isolada nos EUA, mas aborda um episódio registrado na Bolívia, em 2009, onde a “tradição” continuava em vigor, até a prisão de alguns homens após corajosas denúncias das vítimas.
Entre Mulheres acompanha os moradores de uma vila que veem parcela da população masculina ser presa por conta de ataques contra as mulheres do local.
Situado quase que inteiramente em um celeiro, o longa conta a histórias de mulheres que discutem quais caminhos devem tomar após descobrirem que estão sendo violentadas pelos homens locais.
Ficar e lutar ou partir? É a questão que essas mulheres se propõe, com discussões pesadas e dolorosas sobre os fatos: essas mulheres passaram por anos de ataques, abusos e decidiram dar um basta nisso, principalmente agora com a possibilidade do retorno de seus agressores para a vila. Assim, essas mulheres, com baixo ou nenhum grau de instrução, resolvem se mobilizar e debater com tanta clareza social, filosófica e religiosa a vida passada, presente e futura, com conversas francas e inspiradoras, que navegam entre a fé que é tão cara a essas mulheres e o desejo quase utópico por uma vida melhor, depois de anos de explicações esdruxulas sobre tudo que acontecia com elas.
O coletivo, representado pelas irmãs Salome (Claire Foy) e Ona (Rooney Mara), a cética Mariche (Jessie Buckley) e as matriarcas Agata (Judith Ivey), Greta (Sheila McCarthy) e Frances McDormand que observa tudo com um silêncio inquisitor, com olhos que condenam, sendo, ela mesma fruto de seus próprios traumas.
O filme se mostra um exercício poderoso e comovente de imaginação. Levado pela força de seus diálogos e um cuidado sublime com cada interpretação
O longa de Sarah Polley é atípico e foge do formato padrão, e é um convite profundo e delicado à reflexão sobre a vida e as escolhas de mulheres que por tanto tempo foram caladas.
O longa evita uma perspectiva mais depressiva, mantendo sempre uma esperança e otimismo, em meio aos diálogos dolorosos e necessários de se ouvir. As decisões que essas mulheres precisam tomar são maiores que elas mesmas e encontram ecos em todo lugar.
Indicado ao Oscar de melhor filme e melhor roteiro adaptado, Entre Mulheres é um debate necessário sobre a construção da dignidade de um grupo de mulheres que, após anos em silêncio, finalmente decidiram falar. E não pararam mais.
Sincero, contundente e primordial.
⭐️⭐️⭐️⭐️
Por Ana Lopes
Jornalista