CRÍTICA EO (2022)
EO — Polônia, Itália (2022) – Direção: Jerzy Skolimowski
EO é um filme bem especial, uma diferenciada e bela obra melancólica que não tem um ser humano como protagonista, e sim conta a história cheia de aventuras a partir da ótica de um burro e da perspectiva de pessoas que acham que sabem o que é melhor para ele.
O burro EO vive num circo polonês onde é treinado para atuar como parte de um número, até que inesperadamente, por causa de uma denúncia, ele se vê separado de Kasandra (Sandra Drzymalska), sua treinadora, que o trata com respeito e carinho.
EO sozinho, vagueia pelo vasto campo em uma grande missão cheia de perigos para tentar se reunir com sua única amiga. E enquanto o inocente EO observa o mundo natural com seus grandes olhos, ele cruza com vários humanos que responderão de formas variadas à presença do animal.
O longa é uma parábola reflexiva sobre a relação entre humano e natureza, uma metáfora dos animais para falar da selvageria das sociedades contemporâneas.
A força do inocente burro está na lembrança da rara bondade humana gravada em sua mente.
Através de seus olhos, o público pode ver o desespero, a solidão e a violência que abusa dos mais fracos.
EO é uma fábula contemporânea que investiga, expõe e coloca à prova a natureza humana.
O roteiro, escrito por Skolimowski em parceira com sua esposa Ewa Piaskowska, surpreende ao mostrar a jornada do herói-animal e faze-lo de forma tão cativante.
O veterano diretor polonês levou o longa a vencedor o Prêmio do Júri no Festival de Cannes.
EO é bem amarrado, e impressiona pela quase ausência de diálogos, e as emoções da história são passadas através da iluminação, do enquadramento, da trilha sonora, da montagem, dando aula nos aspectos técnicos de filmagem.
A experiência que o diretor nos propõe é perfurante, dolorosa, nos invade e nos perturba e gera uma viagem hipersensível e sensorial.
O filme é inteligente, impactante, intenso e singelo, EO é uma carta de amor aos animais, e de como devemos pensar a natureza, olhar com outros olhos e tocar o mundo além da humanidade.