CRÍTICA – O Último Vagão
O Último Vagão (El Último Vagón – México/2023) – Direção: Ernesto Contreras
O Último Vagão dirigido por Ernesto Contreras e escrito por Javier Peñalosa, retrata uma história real e consistente, que envolve expressões da questão social: a pobreza e a desigualdade social de crianças que vivem em uma pequena região do México, fronteiriça com os EUA.
O enredo nos apresenta o pequeno Ikal (Kaarlo Isaac) que nos conduz a sua pesada jornada. Ikal é o filho de uma dona de casa com enfermidades respiratórias e de um pai operário dos trilhos de trem do interior do México, ambos analfabetos, ele vive os dias brincando com amigos num vilarejo desabastecido. A rotina do garoto é modificada quando conhece a professora Georgina (Adriana Barraza), uma experiente educadora, que leciona em um vagão abandonado e convence os pais do menino a permiti-lo tomar aulas de instrução básica.
O longa é um ‘coming of age’ que costura diferentes pontos de vista para a triste situação do ensino através dos tempos, da exploração da classe trabalhadora, da abnegação de quem luta pelos que não conseguem lutar sozinhos.
O Último Vagão é hábil em contar essa história tão múltipla de observação, e o ponto forte é que nenhuma dessas questões é usada de maneira proselitista ou com intenções outras que não mover a narrativa.
Não há como negar que Barraza é uma daquelas atrizes que ocupam cada instante dos cenários, se destaca com facilidade, encantando qualquer observador. Ela transpira se personagem se forma nobre.
Destaca-se também a competente fotografia de Juan Pablo Ramírez, que incita reflexão sobre as desigualdades que permeiam as relações sociais.
E a competente direção de Contreras não incorre em discursos políticos para que possamos mergulhar na saída possível, e no futuro concreto.
O plot twist do final é arrebatador, mesmo previsível, emociona e agrada por sua singeleza, evoca a generosidade e profunda esperança de quem se dedica a formar gerações, a arte de ensinar e acreditar que a inocência é uma qualidade a ser cultivada em um mundo assustador.